segunda-feira, 1 de março de 2010

Cap. 03 Um Nome

- Bom dia, Amigo. Tudo bem? Como passou a semana?
- Bom dia, Senhorita Hadyn. Estou muito bem, principalmente agora que eu a reencontrei. Minha semana foi escandalosamente sufocante. Não suportava mais a agonia de ter que esperar para revê-la. Sinto que as doces palavras que saem dos seus lábios podem me fazer acalmar, me fazem sentir bem.
- ...
Caramba, a coitada não sabia o que dizer, e eu também não sei por que disse tudo aquilo. Acredito que era tudo verdade, era o que eu realmente estava sentindo, mas eu não precisava dizer daquele jeito. Agora ela está assustada. Esperei todo esse tempo pra deixá-la assustada, como sou um tolo...
- Bom! Passei a semana estudando o seu caso, afinal, você não tem problema algum, simplesmente procura alguém para conversar. Como você não quis me dizer o seu nome, eu pensei em algumas maneiras de te chamar, baseado na nossa conversa anterior. Espero que lhe agrade:
“O primeiro que pensei foi “Misterioso”, ou “Mistério” um pseudônimo simples e coerente, afinal, foi o que você representou no nosso primeiro encontro. Não acho esse um dos melhores nomes para lhe atribuir, mas posso considerar um apelido e assim representar como eu o vejo.”

Essa mulher me surpreende cada vez mais. Cada vez mais acredito estar finalmente encontrando meu destino.
- Concordo com a senhorita, mas diga se pensou em algum outro nome.
- Sim, claro. Pensei sim, como eu disse, passei a semana inteira pensando em como lhe chamar, mas claro que isso seria se você não quisesse me dizer seu nome. Você quer?
- Não, doutora. A conversa está interessante. Continue falando sobre mim.
Novamente ela riu. Acredito que ela tenha pensando “o que um louco desse está fazendo no meu consultório, quem faz as perguntas aqui sou eu e quem tem que falar aqui é você!”. Mas ela limitou-se simplesmente a um belo sorriso. Deve ter gostado da situação, pois que permaneça assim a situação.
- Tudo bem! Pensei em coisas que demonstrasse sua personalidade, tal como eu o vejo, por exemplo: Gentil, cavalheiro, educado, entre outros. Pois desde o primeiro momento você demonstrou ser um exímio cavalheiro, educado por natureza, gentileza sem tamanho. Acredito que isso tenha sido uma das coisas que mais me chamou atenção em você, afinal, o mundo de hoje anda muito contrariado, muito caótico, como dizem por aí... estamos chegando no fim do mundo...
- A senhorita diz isso porque não conheceu o seu mundo antes de se tornar o que é. Com certeza ele está muito caótico, mas essa promiscuidade reina desde séculos atrás. Hoje, as coisas estão apenas mais claras e abertas a todos. A humanidade não se importa mais em esconder os seus defeitos, tudo está ao alcance de todos.
- Sabe o que me chama muito a atenção em você?
Claro que eu não tinha idéia do que ela falaria, afinal, ela é imprevisível. As pessoas odeiam ser previsíveis, isso da uma sensação de fraqueza, como se você nunca pudesse fazer uma surpresa; principalmente Vanessa, eu a conheço muito bem.
- O que me chama muito atenção, é que você fala sobre isso tudo, como se você estivesse lá. Fala sobre o passado como se estivesse estado lá, como se estivesse vivido lá.
- Gosto muito do passado. O passado nos mostra onde erraram e onde devemos acertar. Sem o conhecimento do passado, não podemos enfrentar o futuro.
- Realmente, eu nunca havia olhado por essa perspectiva. Pensarei mais sobre o assunto. Mesmo assim, conheço outros historiadores, mas você é o único que fala dessa maneira, como se estivesse estado lá.
- Fico lisonjeado por admirar meu conhecimento histórico, espero agradá-la.

A conversa foi levando cada vez aos mais belos sorrisos. Nunca imaginei que eu pudesse fazê-la sorrir tão facilmente. As coisas parecem estar indo melhor do que eu esperava.
Conversamos mais um pouco e logo nosso segundo encontro estava encerrado, e é claro que antes de sair do consultório já havíamos combinado o nosso próximo encontro para daqui a uma semana.
- Agradeço pela sua atenção, Senhorita Hydn. Aguardarei ansiosamente para revê-la.
- Eu que agradeço a sua presença, “Historiador Misterioso”. Tenha uma excelente semana.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Edição atrasada

Desculpem-me, mas não tive tempo de continuar a escrever.
Em breve postarei a continuação da história do Redentor das Eras
abraços

domingo, 25 de outubro de 2009

Cap. 02 Lembranças

Passou-se quase uma semana desde o dia em que fui ao consultório de Vanessa Hadyn. Desde então me sinto angustiado, todos os dias tenho vontade de vê-la, algumas vezes passava em frente ao seu consultório, observava um pouco a janela do terceiro andar e logo partia.
Minha segunda consulta estava marcada para exatamente uma semana após a primeira e está sendo quase insuportável esperar.
Ao longo desta semana uma coisa entre nossa conversa me marcou muito, e acabei por relembrar um grande pedaço da minha vida, a qual já estava adormecida nas profundezas da minha alma, nos mais profundos abismos da minha mente.
Amei uma mulher, assim como qualquer outro homem eu também amei uma mulher, e ela se chamava Vanessa...
Vanessa era uma bela mulher de costumes simples e uma humildade imprescindível. Lembro de tê-la visto pela primeira vez na casa de um amigo, Douglas Hamilton, inglês pomposo de moral indubitável, dono de grandes porções de terra e conhecedor das maiores e mais adoráveis famílias da região.
A garota era bela. Desejei-a em nome de tudo o que era mais sagrado para mim. Desejei-a e a tive. Tornei a encantadora Vanessa a mulher mais feliz deste mundo, mas como qualquer outra história daquele época, nosso amor era proibido. Fatos banais que tornavam nosso destino um emaranhado de confusões e incertezas.
Promessas... o maior erro de um ser pensante. Promessas, promessas e mais promessas. Por que fazemos promessas? E pior, por que não cumprimos as promessas que fazemos? Às vezes penso que as promessas foram criadas por uma pessoa rancorosa, cheia de amargura, e essa pessoa desejou isolar-se de todo o mundo, assim ele conseguiu. Tente prometer várias coisas para várias pessoas, assim você se isolará de todos.
Prometi à Vanessa que a amaria eternamente e para sempre estaria ao seu lado, e assim tentei fazer, eu só não contava com uma coisa... o destino.
Parecia estar tudo muito bem entre Vanessa e eu, parecíamos estar muito felizes, estávamos finalmente andando em rumo ao final feliz, mas não... Sara Notingham me encontrou e ocupou a outra parte do meu coração.
Nunca encontrei um amigo que fosse compreensivo o suficiente, sincero o suficiente, amigo o suficiente para que eu pudesse compartilhar essa minha agonia. E assim como eu prometi para Vanessa, eu também prometi para Sara.
Por longos anos da minha vida eu deveria carregar esse peso no meu coração e na minha consciência. Era impossível chegar a uma conclusão exata do que eu realmente queria. Talvez porque eu sempre tenha sido tão indeciso, sempre odiei fazer escolhas.
Hoje, no caminho para o consultório de Vanessa Hadyn, percebo como aquela época perturba minha existência. Prometi a mim mesmo que me redimiria do que causei aquelas belas mulheres, mas, infelizmente, não descobri como o fazer, e é por isso que procuro conversar com Vanessa Hadyn, minha Redentora. Acredito de algum modo que essa exuberante beleza e efusivo carisma, impregnados de encanto e desprovidos do pecado, poderá, de algum modo livrar-me dos fantasmas do meu passado...
Finalmente aqui estou... Clinica Hadyn e o segundo encontro com minha musa redentora, Vanessa Hadyn.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cap. 01 De Volta Aos Seus Braços

Por toda minha vida procurei alguém com quem pudesse conversar. Conversar sobre as coisas que me afligem, coisas que me tornaram o que sou... Após tanto tempo, acredito ter finalmente encontrado quem eu procurava.

A encontrei nesse novo mundo dionisíaco, assolado pela promiscuidade, onde o caos governa uma população de medíocres.

Encontrei o telefone dela ao ler um jornal diário. No jornal dizia que ela trabalhava conversando com as pessoas. Mas o que mais me chamou atenção não foi a profissão, e sim o nome. Assim cheguei ao consultório de Vanessa Hadyn para conversar, meu único objetivo era conversar... conversar de modo que a séculos não converso.

- Bom dia, Senhor, seja bem vindo!

- Por favor, não me chame de Senhor. Dá a impressão de que já sou velho.

- Como queira. Prefere que eu lhe chame como?

- Por enquanto apenas de Amigo.

- Muito prazer, Amigo, seja bem-vindo. Meu nome é Vanessa Hadyn

- Não acredito que nomes sejam importantes nesse momento, inclusive, seu nome eu já sei, pois o vi no jornal no anúncio dessa clínica.

- Percebo que você é bem direto, sendo assim vamos logo ao ponto. Qual é o seu problema?

- Não tenho problema.

- Então por que veio até aqui?

- Para conversar.

No momento ela pareceu não saber o que falar, perdeu toda a credibilidade. Uma doutora tão bela e inteligente como ela não poderia ficar sem palavras na frente de um paciente. Mas havia algo mais. Havia uma aura de angústia que a sufocava e de algum modo me fazia compartilhar de seu sentimento.

- Tudo bem, então vamos conversar. Sobre o que você quer conversar?

- O que você quer saber?

- Estou vendo que você é um cara difícil, mas tudo bem, eu quero saber sobre você. Sobre a sua vida. O que você gosta e o que não gosta? Porque resolveu vir até o meu consultório e por que não escolheu outro? Não precisa ter pressa e não precisa responder necessariamente nessa ordem.

- É claro que não preciso ter pressa, afinal estou pagando por hora, não é?

È claro que eu estava sorrindo ao final de cada frase, para que ela não pensasse que eu estava debochando dela, na verdade eu só queria tornar um momento mais alegre, e acredito que ela tenha compreendido a minha intenção. Conversamos a tarde inteira, contei a ela várias coisas da minha vida, mas não cheguei a contar tudo, pois para isso precisaríamos de alguns anos. Mas contei coisas suficientes para deixá-la assustada. No final da tarde, quando ela já começava a sentir fome, ela fez algumas perguntas e é claro que eu percebi no olhar dela que a consulta estava por acabar.

- Em qual período histórico gostaria de estar vivendo?

- Século XVII. Era magnífico, lindo, extravagante, soberbo, promiscuo e perverso. Tudo o que uma mente pecadora como a minha adora.

Dessa vez ela ficou realmente assustada.

- Qual o seu maior medo?

- Altura

Agora ela sorriu.

- Seu maior desejo?

Essa pergunta me doeu. Não sabia o que responder. Havia tantos desejos, tantos anseios que me tomavam naquele momento, que se eu respondesse um, estaria negando muitos outros. Se eu respondesse todos, estaria revelando coisas de mim que ainda não estou pronto para revelar. Mas eu tinha que responder algo:

- Me casar.

- Se pudesse ser outra pessoa nesse momento, quem gostaria de ser?

Essa talvez tenha sido a pergunta mais engraçada de toda a entrevista. Havia várias respostas. Muitas pessoas me chamaram atenção ao longo da história, mas eu podia escolher apenas uma.

- Eu gostaria de ser você.

- ...

- ...

- Percebo que você é bem realista e sincero. Diga quem você mais ama.

Essa foi a única pergunta que eu não quis responder, pois era a única resposta que não me agradava.

- Não existe amor, existe apenas o desejo.

- Deus?

- Deus não existe, apenas a religião.

- Diga um herói.

- Dorian Gray

- Dorian Gray não existe.

- Heróis não existem.

- ...

Meu primeiro dia na psicóloga acabou por aí. Não sei qual foi a impressão que ela teve sobre mim. Ela deve pensar que sou um louco, ou talvez, apenas uma pessoa muito solitária. Gostei muito da graça dela, pretendo vê-la mais vezes.

Vanessa Hadyn... Jamais esquecerei esse nome.