segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cap. 01 De Volta Aos Seus Braços

Por toda minha vida procurei alguém com quem pudesse conversar. Conversar sobre as coisas que me afligem, coisas que me tornaram o que sou... Após tanto tempo, acredito ter finalmente encontrado quem eu procurava.

A encontrei nesse novo mundo dionisíaco, assolado pela promiscuidade, onde o caos governa uma população de medíocres.

Encontrei o telefone dela ao ler um jornal diário. No jornal dizia que ela trabalhava conversando com as pessoas. Mas o que mais me chamou atenção não foi a profissão, e sim o nome. Assim cheguei ao consultório de Vanessa Hadyn para conversar, meu único objetivo era conversar... conversar de modo que a séculos não converso.

- Bom dia, Senhor, seja bem vindo!

- Por favor, não me chame de Senhor. Dá a impressão de que já sou velho.

- Como queira. Prefere que eu lhe chame como?

- Por enquanto apenas de Amigo.

- Muito prazer, Amigo, seja bem-vindo. Meu nome é Vanessa Hadyn

- Não acredito que nomes sejam importantes nesse momento, inclusive, seu nome eu já sei, pois o vi no jornal no anúncio dessa clínica.

- Percebo que você é bem direto, sendo assim vamos logo ao ponto. Qual é o seu problema?

- Não tenho problema.

- Então por que veio até aqui?

- Para conversar.

No momento ela pareceu não saber o que falar, perdeu toda a credibilidade. Uma doutora tão bela e inteligente como ela não poderia ficar sem palavras na frente de um paciente. Mas havia algo mais. Havia uma aura de angústia que a sufocava e de algum modo me fazia compartilhar de seu sentimento.

- Tudo bem, então vamos conversar. Sobre o que você quer conversar?

- O que você quer saber?

- Estou vendo que você é um cara difícil, mas tudo bem, eu quero saber sobre você. Sobre a sua vida. O que você gosta e o que não gosta? Porque resolveu vir até o meu consultório e por que não escolheu outro? Não precisa ter pressa e não precisa responder necessariamente nessa ordem.

- É claro que não preciso ter pressa, afinal estou pagando por hora, não é?

È claro que eu estava sorrindo ao final de cada frase, para que ela não pensasse que eu estava debochando dela, na verdade eu só queria tornar um momento mais alegre, e acredito que ela tenha compreendido a minha intenção. Conversamos a tarde inteira, contei a ela várias coisas da minha vida, mas não cheguei a contar tudo, pois para isso precisaríamos de alguns anos. Mas contei coisas suficientes para deixá-la assustada. No final da tarde, quando ela já começava a sentir fome, ela fez algumas perguntas e é claro que eu percebi no olhar dela que a consulta estava por acabar.

- Em qual período histórico gostaria de estar vivendo?

- Século XVII. Era magnífico, lindo, extravagante, soberbo, promiscuo e perverso. Tudo o que uma mente pecadora como a minha adora.

Dessa vez ela ficou realmente assustada.

- Qual o seu maior medo?

- Altura

Agora ela sorriu.

- Seu maior desejo?

Essa pergunta me doeu. Não sabia o que responder. Havia tantos desejos, tantos anseios que me tomavam naquele momento, que se eu respondesse um, estaria negando muitos outros. Se eu respondesse todos, estaria revelando coisas de mim que ainda não estou pronto para revelar. Mas eu tinha que responder algo:

- Me casar.

- Se pudesse ser outra pessoa nesse momento, quem gostaria de ser?

Essa talvez tenha sido a pergunta mais engraçada de toda a entrevista. Havia várias respostas. Muitas pessoas me chamaram atenção ao longo da história, mas eu podia escolher apenas uma.

- Eu gostaria de ser você.

- ...

- ...

- Percebo que você é bem realista e sincero. Diga quem você mais ama.

Essa foi a única pergunta que eu não quis responder, pois era a única resposta que não me agradava.

- Não existe amor, existe apenas o desejo.

- Deus?

- Deus não existe, apenas a religião.

- Diga um herói.

- Dorian Gray

- Dorian Gray não existe.

- Heróis não existem.

- ...

Meu primeiro dia na psicóloga acabou por aí. Não sei qual foi a impressão que ela teve sobre mim. Ela deve pensar que sou um louco, ou talvez, apenas uma pessoa muito solitária. Gostei muito da graça dela, pretendo vê-la mais vezes.

Vanessa Hadyn... Jamais esquecerei esse nome.

2 comentários:

  1. Continua... provavelmente daqui um mês...
    Obrigado

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  2. curti bastante, mt bom o texto!
    ja ate me inscrevi pa sabe qd posta coisa nova
    heheheh
    continua escrevendo q qro saber como continua!

    abraço

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